O melhor dos mundos existentes…
Para o sociólogo italiano Domenico De Masi, “o Brasil não é o melhor dos mundos possíveis, mas é o melhor dos mundos existentes”. Trechos da entrevista que deu à Folha de S.Paulo expõem suas ideias.
“Depois de copiar o modelo europeu por 450 anos e o modelo americano por 50, agora que ambos estão em crise e ainda não há um novo para substituí-lo, chegou a hora de o Brasil propor um modelo para o mundo”, diz De Masi.
Professor da universidade romana de La Sapienza, De Masi, hoje aos 75 anos, se tornou internacionalmente conhecido em 2000, com o lançamento de “O Ócio Criativo”.
Na obra, o autor defende a redução das jornadas de trabalho e a flexibilização do tempo livre, em um contexto mais adequado à globalização e à sociedade pós-industrial. Desde então, tem se dedicado à análise da organização da cultura de trabalho criativo na vida contemporânea e a estudos comparativos sobre a herança de diferentes modelos de vida no mundo –do indiano, chinês ou japonês, ao muçulmano, judaico, católico ou protestante.
Para quem se debruça sobre novos paradigmas de desenvolvimento humano, as reflexões do sociólogo italiano são provocadoras. Elas instigam a pensar em formas de colocar os melhores ativos nacionais, os talentos, as vocações e as competências a serviço da “felicidade” da nação, no sentido do acesso a direitos, à informação e às oportunidades.
Na entrevista concedida à Folha de S. Paulo, De Masi tocou nesse dois pontos, entre outros.
Brasil
O Brasil ainda hoje é menos conhecido e valorizado do que merece. O Brasil é quase tão grande como a China, mas é uma democracia. O Brasil é quase três vezes maior que a Índia, tem quase o mesmo número de etnias e de religiões, mas vive em paz interna e em paz com os países limítrofes. O Brasil é quatro vezes maior que a zona do Euro, mas tem um único governo e fala uma única língua. O Brasil é o país onde há mais católicos, mas onde a população vive da forma mais pagã. O Brasil é o único país no mundo onde a cultura ainda mantém características de solidariedade, sensualidade, alegria e receptividade.
Desafios
A força de um país não está apenas no seu crescimento econômico, mas principalmente na sua capacidade de distribuir igualmente a riqueza, o trabalho, o poder, o saber, as oportunidades e as proteções. Os desafios aqui são o analfabetismo, a violência e a desigualdade. É realizar esta redistribuição mais igualitariamente em comparação a outros países e manter a melhor relação entre economia e felicidade.