Andabilidade: o movimento original de andar a pé
Todo mundo quer viver em uma boa cidade. Viver em uma boa cidade depende de todo mundo.Um dos pressupostos para esse bem-estar nas cidades, em especial em seus lugares centrais, é a “andabilidade”, um conceito traduzido do termo inglês – walkability.
Segundo o arquiteto e urbanista Washington Fajardo, a palavra “andabilidade” é uma tradução que não alcança plenamente os conceitos envolvidos no termo inglês walkability mas é um bom modo de começar a falar sobre um princípio fundamental das boas cidades, presente nas estruturas urbanas tradicionais, que é a qualidade do caminhar, da acessibilidade à cidade para qualquer tipo de pessoa, de qualquer idade, com qualquer tipo de dificuldade motora. “É um conceito simples e amplo”, diz ele, resumindo-o como algo sobre a facilidade de se ter acesso a bens e serviços através do espaço público, sobre proximidade e interação entre pessoas, sobre sentir-se seguro e livre.
Muitos critérios definem o índice de andabilidade, construídos por diversos indicadores de qualidade, segundo o contexto sócio-espacial em análise. Alguns exemplos desses indicadores: largura e qualidade das calçadas, arborização, mobiliário urbano, sinalização (faixa de pedestre), presença de infraestrutura cicloviária, número de faixas viárias adjacentes, sentido duplo ou mão única da via, vigilância institucional, usos e atividades térreas, presença de equipamentos urbanos e sistemas (saneamento, mobilidade) disponíveis, iluminação, presença de personalização e percepção de segurança urbana.
Estes critérios são apresentados em um artigo que aborda a qualidade do espaço pedestre em diferentes bairros da cidade do Recife. Foram extraídos da pesquisa Andabilidade Urbana – Metodologia de avaliação de qualidade urbana, que busca estudar a escala do pedestre e sua relação com a paisagem urbana, considerando fatores sociais e ambientais pontos chave no desenvolvimento de uma metodologia de avaliação da condição de andabilidade, além de fatores que constroem a percepção visual assim como valores naturais e culturais.
As autoras desse trabalho são Sabrina Machry é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco; Arquiteta e Urbanista formada pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (Porto Alegre, 2010), Máster em Desenvolvimento Urbano e Territorial pela Universitat Politècnica de Catalunya (Barcelona, 2011) e Circe Monteiro é Professora titular do Departamento de Arquitetura da UFPE. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná (1977), com mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela COPPE -Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979) e doutorado em Sociologia Urbana na University of Oxford (1989).
Trazendo para São Paulo e mais precisamente ao centro da cidade nos arredores da Praça Dom José Gaspar, ao lado da biblioteca Mário de Andrade, onde estamos hoje instalados, é possível dizer que esses conceitos começam a ser aplicados aqui, ou melhor (re) aplicados, ainda em escala a ser ampliada em muitos aspectos. Se já fomos assim e perdemos esses atributos pelo abandono da cidade, se queremos uma cidade andável, então é hora de apoiar e fortalecer qualquer iniciativa pela “andabilidade” no centro de São Paulo. Viva a rua!