Formas de olhar o mundo e de contato com o outro

A arte nos põe em contato com o outro e o acesso a ela é uma questão de cidadania. Para a curadora educacional da Bienal de São Paulo, Stela Barbieri, a poesia está na forma de olharmos para o mundo. Leia alguns trechos da entrevista que ela deu à Olhar Cidadão para o Encontro de Ideia do Instituto EBX.

Stela-BarbieriStela Barbieri, a arte-educadora, artista plástica, escritora infantil e contadora de histórias, diz que a cidade é o espaço onde se dão todas as questões contemporâneas, sobre as quais a educação deve refletir. Leia a seguir alguns trechos da entrevista.

Qual a posição da arte e da poesia na sociedade contemporânea? Elas estão mais presentes ou mais distantes do cotidiano das pessoas?

Stela Barbieri - A arte e a poesia estão em todo lugar, é só uma questão de olhar, de abrir espaço para a percepção. Faz parte do cotidiano de todos nós. A arte contemporânea evidencia isso, tratando de questões que pertencem a nossa vida. Nosso dia a dia, especialmente nas grandes cidades, é quase automático, estamos sempre correndo para dar conta de tudo, de uma infinidade de compromissos e tarefas, e às vezes é difícil desautomatizar. Para Luis Perez-Oramas, curador da 30a Bienal – a iminência das poéticas, é aí que entra a arte: ela vem nos tirar do automático, faz com que a gente pare e olhe, pense, reflita, se deixe levar. A experiência estética acontece naquele pequeno instante em que percebemos algo, que nos deixamos tocar. Acredito que a poesia está na forma de olharmos para o mundo.

 Como a arte pode contribuir para a evolução das pessoas, no plano individual, e das sociedades, no sentido coletivo?

O artista e educador Robert Filliou, que tem algumas obras expostas na 30ª Bienal, falava que a arte é o que faz a vida ser mais interessante que a arte. Acho que ele tem razão: a arte nos sensibiliza para a vida, nos faz prestar atenção às filigranas, aos pequenos detalhes, àquilo que pode tantas vezes passar despercebido. Isso acontece com todos, indivíduos e grupos: olhar para arte, conversar sobre o que ela desperta em cada um de nós e ao nosso redor, nos dá a possibilidade de perceber outras formas de atuação.

Como se pode relacionar o acesso à arte com cidadania?

É uma relação direta, o acesso à arte está totalmente ligado à cidadania. Conhecer a cidade, suas instituições culturais e espaços é fundamental para qualquer cidadão. Às vezes, recebemos crianças, jovens e adultos que nunca estiveram no parque do Ibirapuera ou mesmo em um museu na cidade. Fazemos um grande movimento para que o maior número possível de pessoas venha à Bienal, tenha contato com os trabalhos, e nos colocamos a disposição para conversar sobre eles, seja durante a visita ou antes da abertura da exposição, nos Encontros de Formação. Este ano, atendemos mais de 18 mil pessoas nesses encontros e já agendamos visitas para mais de 120 mil alunos. Atendemos todos os públicos, falamos com todos aqueles que demonstram qualquer interesse em conversar conosco: falamos sobre arte, com arte. Os encontros e visitas são meios para refletir sobre a vida e a arte contemporânea, a partir das obras, artistas e conceitos, o que também possibilita às pessoas uma aproximação maior com o que pensam e com o que outros pensam, com modos de vida, crenças, dogmas, saberes e não saberes, enfim, com tudo aquilo que faz de cada pessoa um indivíduo particular e único.

E quanto à educação para a arte: qual é seu objetivo? Como ela se dá na prática? Qual pode ser sua amplitude?

Os setores educativos nas instituições culturais exercem um papel de diálogo. Nosso papel é estabelecer um contato com a educação formal e a não-formal, estreitar as relações que as pessoas têm com a arte contemporânea, tentar aproximá-las do próprio cotidiano e da arte. Antes da abertura das exposições realizadas pela Fundação Bienal, realizamos muitos cursos de formação sobre arte contemporânea, sobre os artistas e os conceitos das mostras para professores, educadores sociais de ONGs, educadores de instituições culturais e interessados em geral. Também estudamos muito, fazemos pesquisa e produzimos conteúdo: material educativo, cursos a distância, o Espaço do Professor, onde textos e vídeo ficam disponíveis para professores e educadores, e mesmo para o público em geral. Esses cursos e materiais são sempre fornecidos gratuitamente e temos professores e educadores que são nossos parceiros desde 2010, fazendo um trabalho extremamente comprometido em suas escolas e comunidades. A conversa com eles vai se aprofundando ao longo dos anos e vemos muitas mudanças significativas no trabalho em sala de aula e na relação deles com a arte, que é mais próxima, mais direta.

 

 

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