A arte e a pulsação do nosso tempo
Já dizia o crítico brasileiro Mario Pedrosa que “arte é o exercício experimental da liberdade”. Segundo Katia Canton, eis uma ótima definição, sobretudo se entendermos que o conceito de liberdade depende de um contexto para se definir.
Katia Canton, PhD em Artes pela Universidade de Nova York, docente e curadora de arte do Museu de Arte Contemporânea, da Universidade de São Paulo, autora de vários livros, escreveu esse artigo em 2005 para a revista Onda Jovem, projeto da Olhar Cidadão, hoje disponível na internet. Tão atual como há sete anos, vale a pena ler e refletir sobre sua provocação sobre o significado da arte.
“O que é considerado um ato ou um pensamento de liberdade em um determinado momento histórico não o é necessariamente em outro. Em se tratando de arte, então, é importante que prestemos atenção nos sinais dos tempos e em seus significados.
Bem, e qual é o significado da arte? Para começar, podemos dizer que ela provoca, instiga, estimula nossos sentidos, de forma a descondicioná-los, isto é, a retirá-los de uma ordem preestabelecida, sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no mundo. Como escreve o poeta Manoel de Barros: “Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: / a) que o esplendor da manhã não se abre com faca / b) o modo como as violetas preparam o dia para morrer / c) por que é que as borboletas de tarjas vermelha têm devoção por túmulos / d) se o homem que toca de tarde sua existência num fagote tem salvação (…) Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios (…) / As coisas não querem mais ser vistas por / pessoas razoáveis:/ Elas desejam ser olhadas de azul – / que nem uma criança que você olha de ave”.
A arte ensina justamente a desaprender os princípios do óbvio que é atribuído aos objetos, às coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento das coisas da vida, desafiando-as, criando para elas novas possibilidades. Ela pede um olhar curioso, livre de “pré-conceitos”, mas cheio de atenção. Os jovens já têm essa disponibilidade, mas é preciso estimular seu convívio com arte para facilitar e aprimorar essa percepção.
Agora, ao mesmo tempo em que se nutre da subjetividade, há outra importante parcela da compreensão da arte que é constituída de conhecimento objetivo, envolvendo a história – da arte e dos homens -, para que, com esse material, se possa estabelecer um grande número de relações. Para contar essa história, a arte precisa ser plena de verdade, refletindo o espírito do tempo, com a visão, o pensamento e o sentimento das pessoas em seus momentos.
Parece complicado? Pois pensar na arte como um conhecimento vivo, um tecido onde se costuram diariamente fios que compõem a vida, é uma forma de entender por que razão a maneira de encará-la também se modifica no decorrer dos contextos sócio-históricos. É mais que desejável, então, que os jovens se acostumem a pensar também sobre a arte de seu próprio tempo.”
Para ler na íntegra, acesse: http://www.ondajovem.com.br/acervo/3/a-pulsacao-do-nosso-tempo